Dizem que depois que aprendemos a andar de bicicleta nunca mais esquecemos. Eu digo que o processo de aprendizado também fica na memória para sempre.
Na minha época de menino andar de bicicleta exigia menos indumentário. Um chinelo no pé e uma bermuda já eram suficientes para encarar as aventuras de pilotar aquele veículo de duas rodas.
Aprendi a pilotar a “magrela” com meu avô materno, José Nunes. Ele usou de uma metodologia de ensino que o resultado era eficiente, ou aprendia , ou aprendia.
Consistia no seguinte: ele morava no Bandeirante, e nas proximidades da casa havia uma rua íngreme. Ali estava o cenário perfeito para começar os ensinos. Orientado pelo “professor”, subíamos a ladeira até o topo. Depois eu me posicionava segurando o guidão e com os pés nos pedais, e então começava a aventura. Vovô me empurrava de ladeira abaixo. A bicicleta não tinha rodinhas de proteção, naquele tempo não existia. E entre um tombo e outro, rapidamente consegui equilibrar a bicicleta.
Diz o ditado que “ladeira abaixo todo santo ajuda”, não precisava de muito esforço naquelas aulas. Precisava apenas de paciência e boa vontade, e meu avô tinha de sobra. Não demorou para os resultados aparecerem, e lá estava eu equilibrando em cima de duas rodas e percorrendo as ruas de Arcoverde. No rosto de Seu Nunes o orgulho de ter me ensinado o que nunca mais esqueceria.
Anos mais tarde vivi essas mesmas aventuras com meus filhos. Tive o prazer de ensiná-los a andar de bicicleta. Com um pouco mais de segurança, um método diferente, nada de ladeiras, mas a mesma paciência e boa vontade que desfrutei quando era um aprendiz. Logo entendi que mais que andar de bicicleta, meu avô me ensinou também valores que eternizaram na minha personalidade.
Que daqui há alguns anos, meus filhos possam contar a seus filhos histórias como essa.